6 de dezembro de 2012

Heróis, sonhos e esperanças...


Por Erlison Galvão

I
Porque os heróis me fascinam tanto? O que há neles de tão mágico?
Existe neles uma linha tênue do fabuloso ao excêntrico, do místico ao perigo, da fraqueza a grandeza, onde para alguns, fantasias vãs que nada acrescentam a realidade, mas para outros a revelação de infinitas possibilidades.

Mais que mera ficção, catarse!
Física da alma em sonho e realidade.
Basta apenas a mera ficção para deixar no coração aquela tensão positiva de expectativa pelo transcendente, pelo enervar-se ao sobrenatural.

Das ruas ao noticiário, nas esquinas e até nas prateleiras de lojas e supermercados, reais ou imaginários, nas prisões ou no confessionário, é reconfortante saber que nas diversas partes do globo não nos faltará grandes homens, estando sempre dispostos a atravessar o ‘Moon River, wider than a mile...’[1] Porque ainda que enfraquecidos, debilitados ou abatidos existe neles ‘aquela força estranha’[2] que os faz notar que há uma ‘humanidade para salvar’, permeando tudo de sentido, recordando ‘o porque’ da labuta.

Se existe um Supremo-Bem, por este, como disse um pequenohobbit[3], vale a pena lutar, é a única coisa na qual se pode agarrar-se, não parando nos desafios, fazendo a dolorosa páscoa do mito para a realidade, do sonho para a beatitude, sendo assim mais tolerante consigo mesmo e com o outro e por isso, em verdade e caridade profundamente homem e inevitavelmente mais herói.



Estamos neste mundo e muitos de nós queremos apenas uma coisa: ser salvos! Por isso o homem tem necessidade de heróis. Eles nos devolvem os sonhos e esperanças que perdemos pela árdua estrada nos trazendo de volta a nós mesmos. Talvez esta seja a maior missão de todo super-herói: devolver-nos aos nossos sonhos perdidos. 

E quando perdemos nossos sonhos? 

O que houve com a criança destemida de outrora, aquela que aventurava a vida e brincando de herói fazia da infância palco de conquistas? É uma pena se ela cresceu e distanciando-se de sua infância abandonou lá os heróis e a capacidade de sonhar...

Será que já nos tornamos o que queríamos ser quando crescer? Saudosa inocência da ‘terra do nunca’[4] onde a alma nunca era pequena e a capacidade de sonhar imensa e intensa...

II

Em todas as épocas e lugares, em todas as raças e classes, a capacidade de ficar absorto no alvo a ser conquistado é intrínseca da alma humana. Deixar de sonhar é escolher morrer aos poucos negando aquilo que somos por natureza. Os sonhos trazem vitalidade à alma! Só a nós foi reservada a felicidade de sonhar! Sonhos a conquistar nos caracterizam enquanto homens, nem dormindo somos privados desta dádiva. É o corpo que dorme e a alma que vela! Se após esta vida não há mais nada a alcançar então não há porque sonhar, pois os sonhos são como uma escola que nos ensina sobre nosso verdadeiro lar...

E se ‘os tigres vem à noite e despedaçam nossos sonhos com suas vozes suaves como um trovão’[5] dar créditos as vozes de nossos heróis, cura as feridas da alma, nos tornamos com eles heróis de nós mesmos. Há quem diga[6] que ‘não são os sonhos não alcançados que nos destroem, e sim aqueles que não ousamos sonhar!’ Não há nada mais infeliz que ignorar os próprios sonhos! Como um câncer esta atitude nos destrói a partir de dentro, avilta a virtude, o entusiasmo e a paixão, envenena o coração.

III

Há quem não ouse sonhar porque não estar disposto a esperar. 
Não estar disposto a esta bem dita paga: ‘convém que custe caro aquilo que muito vale’[7]Entretanto, é esta espera que enobrece o sonho, por ela podemos medir o quanto vale aquilo que queremos. Para alguns voltar a sonhar, é voltar a esperar, é não temer sofrer a espera pelo objeto de nosso desejo e acreditar que entrementes, a ausência purifica nosso desejo, prova nosso querer e tendo nossos sonhos provados e purificados viveremos a bem-aventurança de gozar antecipadamente do bem que ainda não está em nossas mãos, mas que já é sonho alcançado ainda que não realizado. A espera nos livra do imediatismo moderno que longe de nos favorecer, nos lança no desespero do ‘aqui e agora’ reduzindo nossa existência a matéria e tão somente a ela. 

A espera preserva nossa alma. 
Se ‘sonhar não custa nada[8], talvez seja por isso que ao desistir de muitos sonhos, acabamos por vendê-los, sem o saber, por uma bagatela. A espera é a etiqueta com o preço de nossos sonhos e o amor a moeda de seu resgate. Desistir de esperar não é simplesmente desistir de sonhar, é aquiescer que as exigências e sacrifícios talvez não nos valha a gratuidade do sonho. 


[1] Moon River, composição de Johnny Mercer e Henry Mancini, interpretada no filme 'Breakfast at Tiffany's' por Audrey Hepburn.
[2] Força Estranha, composição de Caetano Veloso.
[3] Referência a Samwise Gamgee, personagem do escritor britânico J.R.R. Tolkien na trilogia 'O Senhor dos Anéis'. 
[4] Terra do Nunca, ilha fictícia do livro Peter Pan do escritor escocês J.M. Barrie onde as crianças não crescem.
[5] I dreamed a dream, canção interpretada pela personagem Fantine no musical 'Os miseráveis', baseada no livro do escritor francês Vitor Hugo. Composição de Alain Boubliu.
[6] Will Shuster, personagem do ator Mathew Morrison no seriado norte-amricano 'Glee'.
[7]  Ávila, Sta Teresa. Doutora da Igreja.
[8] Sonhar não custa nada, samba Enredo 1992 G.R.E.S Mocidade Independente de Padre Miguel

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...podas...quando você comenta eu posso crescer...pensar...amadurecer a idéia...