A função do educador pressupõe conhecimento e compreensão da realidade, e de si mesmo, do papel que cumpre desempenhar na construção permanente da cidadania, ou “das cidadanias”, razão primeira da criação do que chamamos Escola. E escola é necessariamente um espaço/tempo que precisa de clareza quanto ao sentido, à direção a apontar os esforços. Essa direção é dada pelo conjunto da sociedade envolvida no projeto educativo. A sociedade precisa ter claro o que quer. E quando tratamos de escolas públicas a sociedade a que nos referimos não pertence às elites, mas às classes populares.
A função do educador, por outro lado, tem para mim uma face militante, de agente da construção do “mundo melhor”. De fazer a sociedade refletir sobre si mesma e assumir a autoria deste novo mundo. De não seguir sempre à deriva, acatando tudo o que lhe é imposto. Nesse sentido, os conhecimentos e as práticas educativas devem ser significantes, com objetivos claros para todos os envolvidos no processo. E essa não é tarefa individual, mas, sobretudo, coletiva. Pois cidadania é coletividade.
O que foi sonho nos anos de Ditadura, hoje é realidade nas escolas municipais: a possibilidade plena de construção do currículo, do ordenamento dos tempos, espaços adequados, amplos recursos materiais e humanos. Mas parece-me que nos perdemos nessa liberdade de autoria. Impactamos-nos com as questões da não retenção e da política de inclusão, e talvez não estejamos otimizando todos os recursos de que dispomos para a construção do conhecimento.
Por que os educandos não estão envolvidos, melhor dizendo, não estão aprendendo? Onde está o furo por onde vazam nossos esforços? As famílias não educam, dizemos nós. E nossa parte, a dos educadores, está bem feita? Além de atribuir culpas, estamos buscando a solução, as estratégias, tanto para a compreensão desta realidade que se nos apresenta como para uma efetiva interferência nela?
Qual a cidadania que precisamos construir? Que perspectivas de futuro temos para a coletividade? Que conhecimentos, habilidades, competências são fundamentais para nosso presente e futuro? Quais são as demandas, os sonhos, das comunidades a que servimos? Quais são as demandas planetárias? Quando e onde discutimos essas questões entre educadores de cada escola? E com a comunidade?
Ou também há algo de burocrático nas relações escola/comunidade?
Nossos alunos não são mais os mesmos. A relação familiar não é mais a mesma. Nós professores não somos mais os mesmos. O país e o mundo mudaram. Penso que devemos levar isso em consideração em nossos planejamentos, como princípio.
Outro aspecto importante do momento é pesquisa, o planejamento coletivo, interdisciplinar, em que nós educadorespodemos compartilhar nossos saberes e práticas educativas, de forma a tornar mais coesa nossa atuação. Disso sinto falta. Vejo bons projetos, dos mais diferentes colegas, esbarrando em dificuldades por serem levados solitariamente ou com pouca participação de um ou outro integrante da escola. Os fracassos, mesmo parciais, desses projetos provocam frustração no educador. E é importante que se reflita sobre as causas do “adoecimento” tão comum e crescente em nossa classe, das biometrias.
Gostaria de compartilhar essas minhas reflexões com meus colegas, para pensarmos juntos, se assim for o desejo da maioria, nossa atuação. Para clarearmos nosso foco, nossa direção e talvez obtermos resultados mais satisfatórios em nosso fazer pedagógico. São mais dúvidas do que certezas, pois como disse acima, as respostas devem ser coletivas.

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...podas...quando você comenta eu posso crescer...pensar...amadurecer a idéia...